domingo, 10 de fevereiro de 2008

Levanto, e depois de uma xícara de café, acordo de verdade.
Ônibus lotado, vida de estudante: fones de ouvido para esquecer do mundo. Agora aqui estou, escrevendo algo que não sei se é verdade.

Ontem presenciei um suicídio.
Para mim durou uma eternidade, para quem não viu, não durou um segundo sequer. E de repente uma vida se perdendo...
O homem simplesmente não parava de chorar, como se irrompesse dele uma sucessão de imagens e fatos, e coisas que simplesmente não faria sentido com palavras. Aliás, naquela hora, nada faria sentido.
Se ajuda um suicida? Não soube o que fazer - se é que podia fazer alguma coisa. Resolvi, lentamente, começar uma conversa. Acho que não se pode chamar de conversa uma tentativa desesperada de uma estranha para salvar uma vida, que pelo menos por enquanto ainda era vida. Será que não era? O que estaria se passando para aquele homem querer pular do vigésimo andar de um prédio comercial, às seis e meia da manhã?
"Moço, o senhor não vai fazer isso, o senhor..."
(soluços)
"Posso ajudar? Eu quero ajudar, eu... fico imaginando se estivesse no seu lugar, por que eu faria uma coisa dessas..."
(soluços)

Ele não saiu da janela. Minha tentativa havia fracassado. Não soube da história daquele homem, não soube por que o relógio despertara mais cedo àquela manhã, não soube por que eu ainda continuava a viver quando o homem que estava à minha frente pulara do vigésimo andar.

Hoje resolvi tomar uma xícara a mais de café, aumentar mais o volume do som e chegar mais tarde no estágio. O homem não era nenhum parente meu, mas fico pensando: e se fosse? Não é egoísmo demais cometer suicídio? Não é covardia demais? Desesperança?

Não consigo entender. Talvez se eu tivesse vivido o que viveu aquele homem, ah, talvez eu entenderia.