Platonices, tolices

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Minha voz é uma voz improfícua, talvez até inaudível, é uma voz que não sai. Mas com ela eu queria dizer que te amo, com ela eu canto baixinho, por medo de desafinar, mas eu canto pra você. Sei que você não vai ouvir, sei que devo parar com isso tudo de dizer que se ama uma pessoa dois minutos depois de conversar com ela, mas... sabe?
Às vezes parecemos tão íntimos, aquele silêncio chega a ser agradável - e eu não queria abrir mão disso. Me sinto segura em você. Posso te chamar de 'meu amor'?

Miss (?) Potter

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Sempre senti uma pontinha de vergonha cada vez que, nas rodinhas de amigos, o assunto passava levemente por Harry Potter. Diziam 'ah, fulano ali tem cara de quem gosta de Harry Potter', sutilmente chamando fulano de infantil. Minha vontade, toda vez que acontece isso, é levantar e fazer todo um discurso sobre como Harry Potter é bom e estimula as pessoas a lerem mais, além de cativar prontamente quem o lê e - à essa altura eu estaria envergonhada demais, olhando para todos que me encarariam incrédulos.
O fato é que eu gosto de Haryr Potter e tenho vergonha de admitir. É tão fascinante, é tão envolvente, tão inteligente... que não vejo como existe alguém que não consiga gostar!

Já sei. Deve ser por vergonha de admitir.

Outro dia

Fechando a porta do apartamento, indo jogar o lixo fora, me deparo com a porta do elevador abrindo. Pêga de surpresa, páro e fico olhando o moço sair do elevador. Ele me encara.
"Desculpe, você... está bem?"
"Ah. Sim, estou. É que... é que pensei que fosse minha mãe saindo do elevador."
"Nossa. Se fosse a minha, eu com certeza estaria feliz."
(silêncio)
"Parece que temos conceitos diferentes sobre 'mãe'."

"Pensei que mãe era uma só."

Levanto, e depois de uma xícara de café, acordo de verdade.
Ônibus lotado, vida de estudante: fones de ouvido para esquecer do mundo. Agora aqui estou, escrevendo algo que não sei se é verdade.

Ontem presenciei um suicídio.
Para mim durou uma eternidade, para quem não viu, não durou um segundo sequer. E de repente uma vida se perdendo...
O homem simplesmente não parava de chorar, como se irrompesse dele uma sucessão de imagens e fatos, e coisas que simplesmente não faria sentido com palavras. Aliás, naquela hora, nada faria sentido.
Se ajuda um suicida? Não soube o que fazer - se é que podia fazer alguma coisa. Resolvi, lentamente, começar uma conversa. Acho que não se pode chamar de conversa uma tentativa desesperada de uma estranha para salvar uma vida, que pelo menos por enquanto ainda era vida. Será que não era? O que estaria se passando para aquele homem querer pular do vigésimo andar de um prédio comercial, às seis e meia da manhã?
"Moço, o senhor não vai fazer isso, o senhor..."
(soluços)
"Posso ajudar? Eu quero ajudar, eu... fico imaginando se estivesse no seu lugar, por que eu faria uma coisa dessas..."
(soluços)

Ele não saiu da janela. Minha tentativa havia fracassado. Não soube da história daquele homem, não soube por que o relógio despertara mais cedo àquela manhã, não soube por que eu ainda continuava a viver quando o homem que estava à minha frente pulara do vigésimo andar.

Hoje resolvi tomar uma xícara a mais de café, aumentar mais o volume do som e chegar mais tarde no estágio. O homem não era nenhum parente meu, mas fico pensando: e se fosse? Não é egoísmo demais cometer suicídio? Não é covardia demais? Desesperança?

Não consigo entender. Talvez se eu tivesse vivido o que viveu aquele homem, ah, talvez eu entenderia.